O sofrimento nos transforma

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Durante quase vinte anos, da janela do meu quarto, era possível desfrutar da maravilhosa vista do pôr do sol. No entanto, enquanto tive essa oportunidade, não dava o devido valor. Deixei de aproveitar muitos momentos que tive para observar e curtir, em razão de estar sempre ocupada.
Há alguns anos, construíram um prédio bem na frente da minha janela, e lamentei o fato de não ter mais acesso à vista. Não cheguei a ficar brava, contudo, pareceu que o meu quarto havia perdido a graça; como se houvesse se tornado uma prisão, perdendo qualquer tipo de “contato” com a natureza.
Da mesma forma que ocorreu neste caso, percebo que acontece em algumas circunstâncias da nossa vida; nos envolvemos com tantas atividades, ocupamos o nosso tempo, e deixamos de aproveitar alguns momentos simples, que fazem ou poderiam fazer toda a diferença.
São tantos compromissos, que acabamos saindo do foco e nos desviando do nosso real propósito. O ativismo envolve os nossos pensamentos, o nosso corpo, e “desativa” os nossos sentimentos; como se fôssemos máquinas e não seres humanos.
Quando o nosso corpo chega em um determinado limite, nos colocamos diante de um cenário, e muitas vezes, conseguimos enxergar apenas em uma direção, o que pode nos levar à uma profunda insatisfação, ou até mesmo, à depressão. Nossa vida perde o sentido, e não temos mais prazer em absolutamente nada.
De certa forma, parece que essa é uma situação ruim. Entretanto, se formos analisar nosso estilo de vida, esta é uma das únicas maneiras que Deus pode agir para nos parar e nos induzir à reflexão, para nos “resgatar”.
Por amor a nós, seres ativistas, Ele permite que as circunstâncias, consequentes das nossas escolhas, nos encaminhem a um lugar, aonde a nossa visão e direção serão transformadas, nossa mente será renovada, nosso espírito será avivado e o nosso coração será curado.
Por muito tempo, a minha visão da janela, contemplava apenas o prédio que me impedia de ver o cenário que eu tinha antes, um cenário que me proporcionava prazer. Minha mente estava focada apenas naquilo que eu havia perdido. O mesmo aconteceu com a minha vida, cheguei à uma situação em que parecia que havia apenas obstáculos, e eles existiam para me impedir de enxergar e alcançar aquilo que desejava.
Uma situação bem semelhante ocorria com o meu notebook, ele possuía um defeito muito peculiar; quando o sistema operacional travava, não adiantava eu apertar qualquer botão, tampouco era possível desligar. A única maneira de desativá-lo e ligá-lo novamente, era, e ainda é, desconectando da energia e removendo a bateria.
Um computador trava, quando a memória ram, não consegue mais processar os dados dos programas que estão sendo utilizados ou quando a máquina sofre um aumento intenso de temperatura. No entanto, o que achei interessante, foi que o meu computador, nunca travava; ele começou a fazer isso apenas quando iniciei um processo pela qual Deus estava me conduzindo, com a intenção de trabalhar algumas áreas da minha vida que estavam sendo negligenciadas, bem como me preparar para o futuro.
O meu tempo era administrado com disciplina, todavia, tudo o que eu fazia, era de acordo com a minha vontade, e da minha maneira. Portanto, num determinado dia em que o meu notebook travou, no momento em que estava removendo a bateria, Deus me disse que a mesma coisa que eu precisava fazer com o computador, Ele precisou fazer comigo diversas vezes, pois era a única maneira de me parar e ter a minha atenção.
Desta forma, Ele conseguia esvaziar a minha “memória”, ou seja, a minha mente, de todas as informações e ocupações que estavam tomando conta do meu tempo, e sendo as minhas prioridades; tais que estavam me conduzindo para uma direção completamente oposta ao que Ele havia planejado para a minha vida.
Nesta mesma época, vivenciei um dia bastante infeliz, na qual havia perdido completamente a vontade de viver. Logo, resolvi deitar na minha cama. A janela estava aberta e começou a chover. Como eu não tinha mais no que pensar, olhei para fora e tive uma surpresa. Ao olhar para fora, da posição em que eu estava, era possível enxergar o céu, árvores, outras casas, e todo um outro cenário que eu não havia percebido antes. Todavia, era em outra direção e não naquela em que sempre estive focada.
Bastava eu mudar a direção em que olhava, e principalmente, a minha posição diante da janela. Eu sempre ficava em pé na frente dela, assim como sempre estive no controle da minha vida. Quando eu não tive mais forças e deitei, para descansar, Deus conseguiu direcionar a minha visão para outro lugar.
Meus planos para o futuro estavam todos esquematizados no que diz respeito à carreira, vida acadêmica e ministério, porém, os planos de Deus eram completamente diferentes dos meus. Enquanto eu estivesse focada no prédio, jamais iria enxergar o que Deus tinha, e por isso, Ele precisou me parar.
A janela apresenta o cenário que temos da vida. O que fazemos com a nossa? Deixamos Deus nos conduzir na sua vontade ou somos autossuficientes e independentes Dele?
O sofrimento, por mais duro que seja, remove de nós toda a sensação de capacidade humana e independência. Nos faz olhar para o nosso interior e descobrir, que na nossa natureza humana não existe nada de proveitoso, apenas subsídios para alimentar o nosso ego.  
Através dos momentos difíceis, paramos de fazer tantas coisas, até mesmo as boas obras; esvaziamos a nossa xícara e passamos a perceber, que a maior parte do que fazemos, fazemos em busca do nosso valor pessoal, aceitação e reconhecimento. Contudo, quando estamos vazios, nos tornamos humildes para receber entendimento da parte de Deus, que aquilo que fazemos, não pode ser impulsionado por este tipo de motivação.
Deus, portanto, nos leva a compreender, que as nossas ações e planos precisam ser dirigidas pelo Espírito Santo, e não pela nossa capacidade, tampouco pela nossa percepção de necessidade. Não somos pessoas boas sem que Deus nos capacite a ser, e se pensamos que somos ou que existe algum tipo de bondade em nós, sem dependermos do Pai, vivemos enganados pelo nosso ego.
A única parte do nosso ser que se comunica com Deus é o nosso espírito. Quando o espírito é avivado, nossas motivações, nosso coração, nossa visão e nossas prioridades, são levadas cativas a Deus, e assim, assumimos a natureza de Cristo, nos tornando aptos a cumprir o nosso chamado.
O sofrimento desligou o meu coração de todas as minhas atividades e sonhos egoístas. Ele me esvaziou do meu senso de capacidade e independência, me preparando para recomeçar a minha vida de acordo com o projeto que o Pai tinha; e que jamais seria cumprido, se eu simplesmente estivesse ocupada com a minha vontade e com os meus planos.
Graças a Deus e às experiências de sofrimento, minha visão da vida, minhas prioridades, meus desejos e sonhos; deixaram de estar direcionadas para o meu umbigo, e se voltaram para o Reino de Deus e às pessoas.
As pessoas precisam desesperadamente do Pai, principalmente daquilo que é eterno e sacia completamente, e não apenas daquilo que podemos oferecer humanamente e de maneira passageira.


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