O
que faz com que um recipiente seja considerado uma lixeira, ou um baú seja
considerado um tesouro, não são apenas as suas respectivas aparências externas,
e sim a função que lhes damos de acordo com aquilo que colocamos dentro destes
recipientes.
Se
uma lixeira for personalizada, por exemplo, e alguém desejar guardar joias ali
dentro, ela se tornará um “porta-joias”. Se alguém desejar usar um baú para
colocar o lixo reciclável, ele será considerado uma “lixeira”. Um vidro de
perfume é chamado de perfume por causa do seu conteúdo. Se substituirmos o
perfume por veneno, mesmo que olhando externamente não saibamos discernir o que
tem dentro, na hora de espirrar o conteúdo ficará claro o que tem lá dentro.
O
mesmo acontece conosco, seres humanos, independente da nossa aparência externa
ou aquilo que parecemos ser, somos aquilo que guardarmos dentro de nós. Olhando
desta perspectiva, é importante cuidarmos com aquilo que nós colocamos e com
aquilo que deixamos as pessoas colocarem dentro de nós, pois tudo o que entra,
de alguma maneira, também irá sair.
Muitas
vezes nos preocupamos muito com aquilo que as pessoas colocam em nós, no
entanto, não cuidamos com aquilo que nós colocamos nelas. É sempre mais fácil
olharmos para o nosso lado. Através das nossas palavras e atitudes podemos
fazer uma pessoa se sentir um “lixo” ou uma “joia”.
Portanto,
vamos avaliar algumas das circunstâncias presentes no nosso dia a dia que podem
fazer com que coisas “entrem” dentro de nós e dependendo da maneira que lidamos
com elas, estaremos compartilhando estes “lixos”, estas “joias” ou “exalando
perfume” a quem está ao nosso redor.
Primeiramente
é interessante respondermos uma pergunta: - quem eu sou? Dependendo da nossa
resposta interior, significará se deixamos ou não, as pessoas determinarem quem
somos de acordo com o que falam ou fazem. Se damos autoridade para as pessoas
dizerem quem somos com base em uma situação isolada, como por exemplo: deixo um
objeto cair no chão e alguém diz que eu sou um desastrado. Em geral, ficamos
com raiva pelo comentário. Realmente foi cometido um erro, contudo, da maneira
que a pessoa falou, pareceu que estava afirmando que eu sou um “erro”, um
desastre, que tudo o que coloco as mãos é destruído. O que não significa que a
intenção da pessoa fosse me transmitir essa “mensagem”, isso foi o que eu
recebi e compreendi.
Independente
da intenção dos outros, não temos controle sobre as pessoas e aquilo que elas
nos falam, portanto cabe a nós lidar com aquilo que recebemos. Neste caso do
objeto, ao invés de ficarmos com raiva, deveríamos parar e pensar: - eu sou um
erro? Sempre estrago tudo? A resposta provavelmente será não, todavia, ocasionalmente
cometermos erros, somos humanos e estamos sujeitos a isso.
Quando
erramos, mesmo que seja um acidente, é necessário pedirmos desculpa ou perdão
para a pessoa que foi lesada pelo nosso erro. Se for um objeto, precisamos
fazer a restituição. Só que geralmente, mesmo que sejamos o responsável,
ficamos magoados com a maneira que as pessoas nos tratam, muitas vezes sentimos
que as pessoas dão mais valor para “coisas” do que para os nossos sentimentos. Entretanto,
isso é algo que está guardado dentro do nosso coração, pois dificilmente uma
pessoa que nos ama ou alguém em plena consciência tem a intenção de fazer o
outro se sentir um “erro” ou um “lixo”.
Suponhamos
que um homem leve a mulher para comer um sorvete ou comprar um presente, digamos
que ela escolha determinado produto e ele diz que é muito caro. Se a mulher não
tem sua identidade e seu valor pessoal bem definidos, quando ela ouvir que é
muito caro, ela não vai interpretar a resposta dele como se o produto fosse
caro, e sim que ela não vale “aquele valor” do produto. Obviamente isso não é
uma verdade e ele jamais teria essa intenção, no entanto, é isso que ela
interpreta por causa daquilo que vem guardando dentro do seu coração.
Existem
diversas “portas” de entrada para o nosso “interior”, que são: os nossos ouvidos,
olhos, mãos, boca, nariz e a nossa mente. A maneira que administramos estas
“portas” determina o que há dentro do nosso coração e da nossa alma,
comprometendo aquilo que compartilhamos também.
Os
nossos ouvidos se tratam daquilo que ouvimos e como processamos. Se no momento
que alguém nos fere, não temos o hábito de perdoar, abrir mão do nosso direito
e justiça pessoal para reconciliar, com o tempo vamos nos tornando amargurados.
A
maior parte do “veneno” que guardamos foi colocado na infância e nesta fase
dificilmente uma criança sabe lidar com as ofensas. Aquilo que acontece nos
primeiros anos de vida determina a imagem pessoal e a identidade de uma pessoa.
Essas informações são transmitidas principalmente pelos pais e carregadas
durante toda a vida, sejam positivas ou negativas. Se forem positivas, a pessoa
desfrutará e enfrentará a vida com saúde emocional. Se forem negativas, a
pessoa lutará intensamente nos seus pensamentos e sentimentos, tendo reações
estranhas diante de fatos insignificantes, mas que para ela, significam muito.
Ela interpreta tudo pelo lado pessoal e tem dificuldade de passar por
adversidades, receber críticas ou até mesmo conselhos. Mesmo que ela seja amada
e aceita pelas pessoas, ela não consegue receber e desfrutar desse amor e
aceitação, pois criou uma proteção para não ser ferida, que impede também que
receba o amor.
A
única solução para esta pessoa é perdoar quem gerou isso dentro dela, recebendo
a cura e permitindo que o Espírito Santo traga a revelação da verdade a
respeito do seu valor pessoal e identidade, substituindo aquilo que os pais ou
as pessoas afirmaram.
Através
dos nossos olhos, criamos padrões e modelos, necessidades e desejos, com base
naquilo que a mídia e a sociedade nos apresentam. Os nossos olhos são a porta
para o nosso interior. Eles são o nosso principal contato com o mundo exterior.
Quando vemos um alimento saboroso, podemos despertar a fome. Quando vemos uma
pessoa atraente ou interessante, podemos despertar o interesse. Quando vemos
uma piscina em um dia de calor, podemos ficar com desejo de tomar um banho.
Quando vemos uma propaganda, despertamos o desejo de consumo. É através daquilo
que vemos, que construímos a nossa individualidade e estilo pessoal.
As
nossas mãos servem para realizarmos nossas atividades e tocarmos as pessoas,
expressando também amor e carinho. O nariz serve para sentirmos o cheiro das
coisas, podendo despertar desejos e ajudar na localização.
A
boca serve como canal para introduzirmos os alimentos para dentro do organismo
e também para falar. Os outros sentidos trabalham mais espontaneamente, se não
quisermos ouvir ou sentir cheiros, precisamos fechar os ouvidos e o nariz. Já a
boca temos mais controle, ninguém empurra comida para dentro de nós, temos a
escolha de ingerir ou não. Deveria funcionar da mesma maneira com aquilo que
falamos, mas infelizmente fizemos das nossas palavras, algo tão espontâneo
quanto sentir um cheiro, e como consequência, falamos o que não deveríamos e as
vezes ferimos as pessoas.
Quando
alguém nos fala algo, de certa forma podemos chamar as palavras de “alimento”.
É nossa escolha aceitar aquilo que nos falam como uma verdade ou rejeitar,
assim como escolhemos o que vamos comer. O que “comermos” comprometerá a nossa
digestão e bem-estar. Se vermos que não é saudável para o nosso corpo, cabe a
nós escolher.
Muitas
vezes, queremos comer algo que estamos com muito desejo, mesmo sabendo das
consequências que teremos depois. Sabemos que aquilo que ouvimos nos fará mal,
e ao invés de perdoarmos ou consertamos a situação, deixamos a raiva entrar e
se instalar, queremos fazer justiça, queremos que a outra pessoa sofra as
consequências, mas quem sofre somos nós mesmos. É impossível eu comer algo e esperar
que alguém sofra indigestão com o que eu comi.
A
nossa mente é uma parte muito complexa. Criamos nela muitas imagens e
situações, seja da imagem que as pessoas tem de nós, seja da imagem precipitada
que criamos das pessoas e da gravidade que agregamos à situações simples que
nem poderiam ser chamadas de problemas. Criamos um “mundo paralelo”; muitas
vezes fazemos dele uma realidade e acabamos sofrendo por estarmos vivendo nessa
realidade. No entanto, não é uma verdade, não faz sentido, mas mesmo que tudo mostre
o contrário, fazemos dele a nossa verdade.
O
principal problema disso é que quando ele existe somente na nossa mente, de
tanto acreditarmos nessa mentira, trazemos isso do “mundo paralelo” e o
transformamos na realidade. Com isso, afetamos as pessoas ao nosso redor,
principalmente a família e fazendo todos viverem essa mentira como se fosse uma
verdade.
Todas
as pessoas, que não têm deficiências, possuem essas “portas” para se
comunicarem com o mundo físico, a natureza e as pessoas. Todas essas portas são
uma bênção que recebemos de Deus e nos capacita a crescer, nos desenvolver, nos
relacionar, amarmos e sermos amados. Todavia, é a maneira pela qual usamos cada
um destes sentidos e funções, que determinará como viveremos a nossa vida.
Podemos destruir a nossa própria vida e também das pessoas que vivem perto de
nós.
Se
somos como um vidro e sabemos que temos guardado “veneno” ao invés de “perfume”,
precisamos procurar ajuda e nos livrar desse “veneno”. Precisamos reconhecer
que ele está dentro de nós. Como percebemos que temos “veneno”? Observando aquilo
que sai quando é “apertado”. As nossas reações mostram aquilo que guardamos
dentro do coração. Mesmo que tentamos nos convencer de que são as “apertadas”
que geram o “veneno”, ou seja, que reagimos assim porque alguém nos induziu a
isso, sabemos que é uma mentira. Durante a vida, todo mundo é apertado em uma
hora ou outra. Contudo, independente da apertada e da intenção de quem está
apertando, é o que contém dentro do recipiente que determinará a reação. A
mesma apertada pode expelir veneno ou perfume, depende apenas do conteúdo do
vidro. Isso explica porque a pessoa sábia gosta quando dizem que ela está
errada ou a corrigem. Explica também porque o tolo não gosta de ser corrigido.
Podemos
dizer que a pessoa que carrega “veneno” é “reativa” e a que carrega “perfume” é
“proativa”. A pessoa reativa não tem controle sobre as suas palavras e atitudes.
Tudo o que ouve mexe no “veneno” que está lá dentro e qualquer chance de
expelir será aproveitada. Independente da apertada, tudo o que ela tem a
expelir é “veneno”, seja um fato grave ou simples, a reação será negativa. Já a
pessoa proativa olha tudo de outra perspectiva, ela sabe que quando alguém “aperta
seu recipiente” é porque conhece o seu potencial e o “perfume” que tem lá
dentro. Ela compreende que se alguém aperta é porque quer sentir o cheiro do
seu perfume e usá-lo de alguma maneira. Esta pessoa tem entendimento do fato de
Deus corrigir quem Ele ama. Ele não aperta (corrige) para ferir ou condenar, e
sim para que o “perfume” que Ele colocou seja usado.
Se
o inimigo conseguiu acabar com todo o perfume e substituir por veneno, usando mentiras
a respeito do valor pessoal e da identidade, Deus quer limpar o vidro e colocar
de volta a essência do perfume de Cristo. Enquanto a pessoa “reativa” entende a
correção de Deus como rejeição, a pessoa “proativa” sabe o quanto Deus a ama,
mesmo que a corrija e a prive de algo que ela gosta.
As
nossas atitudes e palavras refletem o estado do nosso coração. Muitas vezes só
exalamos “perfume” para as pessoas que fazem com que nos sintamos com valor e
exalamos “veneno” para outras que consideramos culpadas dos nossos problemas.
Sempre que expelimos “veneno” rompemos nossa comunhão com Deus. Ele diz que se
não amamos quem vemos, como podemos amar a Ele que não vemos? Ele sabe o que
está dentro do nosso coração e como isso foi parar lá. Sabe que fomos vítimas
também. Entretanto, não quer que nos conformemos nesta situação de vítima e
vamos matando a nós e outros aos poucos com o “veneno”. Por isso Jesus morreu
na cruz, para nos conceder o poder de perdoar assim como Ele nos perdoou.
Através do perdão e quebrantamento, nos livramos de todo o “veneno”, e deixamos
Deus nos encher com o Seu perfume agradável. Ele nos ama tanto e quer que
vivamos em paz e comunhão, não apenas com Ele, mas também com os nossos irmãos.
Fomos criados para viver em corpo e alimentar a alma uns dos outros com o amor
que recebemos do Pai.
O
fato de nos sentirmos um “lixo” ou um “tesouro”, de exalarmos “perfume” ou
“veneno”, não depende do que os outros nos falam ou fazem, mas daquilo que
deixamos entrar dentro de nós. Podemos receber as coisas e processá-las. Se
forem construtivas, corretivas e verdadeiras, deixamos entrar, nos abençoando.
Se forem negativas, sem propósito de restauração e sim de ofensa, não aceitamos
e colocamos para fora. Não com atitude reativa, mas proativa. A nossa reação
não depende do “lixo” e do “veneno” que jogam em nós, mas do “tesouro” e do “perfume”
que guardamos no nosso interior.
Para
vivermos em paz com as pessoas ao nosso redor, é fundamental que sejamos sensíveis
e tenhamos empatia quanto àquilo que elas carregam dentro dos seus recipientes.
Entendendo que se alguém carrega “veneno” e se sente um “lixo”, quanto mais
coisas negativas forem lançadas contra essa vida, pior ficará a sua situação.
Nosso desafio é nos encher de joias e exalarmos perfume, auxiliando cada pessoa
ao nosso redor a se livrar de todo o “lixo” e “veneno”. Isso foi o que Jesus
nos chamou a fazer como seus discípulos.
É
muito fácil exalarmos “perfume” quando queremos parecer agradáveis e
prestativos, principalmente com pessoas que não nos conhecem muito bem. Mas não
são estes casos que determinam nossa verdadeira situação. Aquilo que carregamos
dentro de nós se revela principalmente quando estamos a sós com as pessoas mais
próximas, aquelas com quem temos liberdade para nos expressar. Podemos pensar
que as tratamos assim por causa daquilo que elas produziram dentro de nós, mas
se sondarmos profundamente nossas lembranças, estamos colhendo também aquilo
que semeamos dentro delas. Portanto precisamos nos limpar primeiro e depois
limpar aquilo que fizemos com as pessoas próximas. Não basta apenas limparmos
nós mesmos; se deixamos as coisas ruins de dentro de nós se instalarem dentro
das pessoas que amamos, precisamos pedir perdão a elas para arrancarmos essas
sementes malignas, caso contrário, colheremos os frutos amargos constantemente.
Deus
tem o “pano” e o “produto” para limpar cada recipiente, que se chamam perdão e
arrependimento. A única pessoa que pode usá-los é aquela que aceita se humilhar
e renunciar sua mentalidade de ter direito, o seu egoísmo, achando que é a
vítima. Quem está por trás de todo o “lixo” e “veneno” é satanás. Ele veio para
matar, roubar e destruir. Enquanto enxergarmos as pessoas como o inimigo,
lutaremos contra elas e destruiremos os nossos relacionamentos. Quando
entendermos que todos são vítimas, mas é o inimigo quem distorce as coisas,
principalmente nos nossos sentimentos e pensamentos, passamos a discernir a voz
de Deus e a voz do inimigo na nossa mente, defendendo as pessoas e resolvendo
os conflitos com sabedoria. Assim nos sentiremos como um tesouro para o Pai e às
pessoas, e poderemos exalar sempre o perfume de Cristo.
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