Cresci rodeada por cristãos que defendiam o conservadorismo, outros que
defendiam a espiritualidade, e outros ainda, que afirmavam que Deus quer apenas
o nosso coração. Os conservadores pregavam que o caráter é o fator mais
importante e que a espiritualidade é algo inconstante. Já os “espirituais”,
focavam muito nos dons e na manifestação do Espírito Santo, enquanto que o
caráter, era deixado um pouco ou completamente de lado. Os que enfatizavam o
coração, em geral, ignoravam todo o resto e pregavam uma vida bastante liberal,
mas com Cristo fazendo parte dela, chamando os demais de “religiosos”.
Com o tempo, foram surgindo novas ondas e maneiras diferentes de
interpretar o que Deus espera de nós. Algo que percebi, foi que sempre que algo
novo surgia, os primeiros discursos simplesmente criticavam os métodos de todos
os anteriores, como se apenas este novo estivesse correto e sendo aprovado por
Deus.
Com exceção de alguns extremos que se apresentavam, como a teologia da
prosperidade, a maior parte dos métodos e estratégias que os ministérios
utilizavam, me pareciam bastante convincentes ao apresentarem na Palavra, os
textos que defendiam as suas ideias, crenças e costumes.
Não vou dizer que eu não era uma pessoa crítica. Contudo, minha intenção
ao observar tudo isso, não era estabelecer quem estava certo e quem estava
errado. Meu propósito era aprender diversas posições diferentes, com o intuito
de encontrar um equilíbrio diante de tudo o que Deus revelava às pessoas; tal
que, me auxiliasse a saber como deveria conduzir a minha própria vida.
Em diversos momentos, admito que fiquei confusa e sem saber o que
deveria pensar. O que costumava fazer, era observar na prática, quais os
ensinos que realmente tinham aplicabilidade para a vida diária, e não apenas
conceitos distantes para serem usados na igreja. Portanto, observava como era a
vida das pessoas no meio familiar e no meio social, para conseguir identificar
qual “filosofia” eu deveria seguir.
Meu conflito e meu desejo, era saber de qual lado Deus estava, se Deus
estava de algum lado e de outros não. Todos os métodos tinham seus lados
positivos e negativos. Alguns conservadores ignoravam completamente a atuação
do Espírito Santo e obedeciam a Palavra pela sua própria capacidade humana,
tornando-se autossuficientes. Muitos “espirituais” que conheci, viviam apenas
da manifestação dos dons; contudo, na vida pessoal, não desfrutavam de nada
daquilo. E muitos daqueles que afirmavam ter o coração nas mãos de Deus, viviam
escravos do pecado, o que era contraditório.
Conheci poucas pessoas que eu pudesse olhar e desejar – eu quero viver
assim. O estilo de vida que mais me agradava e que parecia ser mais constante,
era o dos conservadores. No entanto, com o tempo, comecei a perceber que eu
precisava do Espirito Santo, não bastava eu simplesmente obedecer princípios e
fazer as coisas do meu jeito. Faltava algo a mais no meu interior, e eu sabia
que essa falta se tratava da necessidade do Espírito Santo para me suprir e
conduzir, de maneira real e pessoal.
Portanto, ocorreram algumas situações na minha vida que me
desestabilizaram completamente. Perdi o total controle e passei a ser conduzida
nessa jornada para poder cumprir o propósito que Deus tinha. Neste momento, aquilo
que as pessoas pensavam e ensinavam já não era mais suficiente. Eu precisava
aprender a me relacionar com Deus diretamente e não apenas ter pessoas intermediando
e me ensinando.
Minha mente e minha razão entraram em uma completa confusão. Todas as
verdades que eu tinha, pensando sempre que eram os pensamentos de Deus a
respeito de tudo, foram sendo confrontadas até que minha xícara ficou vazia. Eu
não tinha certeza de mais nada, exceto dos princípios imutáveis e literais da
Palavra.
No meio disso tudo, perguntei a Deus o que Ele queria de mim. No que eu
deveria acreditar? O que eu deveria seguir? O que Ele aprovava ou não? Qual era
o pensamento Dele diante disso tudo? Em qual lado Ele estava?
Uma das coisas que Ele me ensinou,
foi que todos estamos em um processo, em uma jornada espiritual. Isso não quer
dizer que uns estejam certos e outros errados, tampouco que Ele esteja com
alguns e com outros não. Ele está nas pessoas e não em métodos ou filosofias. Isso
significa que uma igreja pode ter várias heresias, e pessoas lá dentro podem
ter uma relação profunda com Deus. Ele vai se revelando e ensinando, de acordo
com a maturidade que temos para aceitar e compreender, bem como, disposição
para se submeter àquilo que Ele tem para revelar. Entretanto, grande parte das
pessoas, se conforma a viver em um lugar confortável da jornada, e por isso, podem
permanecer estagnadas durante toda a vida.
Quanto ao pensamento conservador, o foco na espiritualidade ou apenas no
coração, Deus começou a chamar a minha atenção para diversos homens na Bíblia
que ofereceram um altar para Ele. Ele me ensinou que o altar é o modelo que nos
deixou, e com isso, me levou a compreender o que Ele espera de mim.
Do que um altar era constituído? De pedras (caráter e fundamentos), de
um sacrifício puro (coração) e de fogo para queimar (Espírito Santo). Ou seja, nenhum
destes conceitos está errado, cada um deles é uma parte do que Deus espera. É
comum ouvirmos críticas de cada tipo de “filosofia” em relação às demais,
contudo, não quer dizer que Deus aprova uma ou outra. Ele quer as pessoas.
Não muito tempo atrás, minha vovó, que tem mais de oitenta anos,
perguntou-me se uso chapa (dentadura), pois achou que os meus dentes estavam
bem alinhados. Obviamente, com vinte e poucos anos de idade, não estaria usando
dentadura. No entanto, como ela tem certa limitação de memória, e na época dela
não existiam aparelhos para corrigir os dentes, na sua mente, a única
explicação que havia para os meus dentes estarem alinhados, era o fato de eu
usar chapa. E esse mesmo fato ocorre com muitas pessoas. Como o conhecimento ou
experiência de vida se limitam à certa realidade ou época, elas não conseguem
enxergar ou cogitar que Deus possa agir ou pensar de maneira diferente do que
elas podem compreender ou aceitar. Como resultado disso, existem muitos
conflitos, principalmente entre líderes cristãos, para expressar as opiniões e
críticas de uns em relações aos outros.
Existe uma diferença imensa entre aquilo que Deus fala e aquilo que
podemos interpretar, e estabelecer como padrão. Isso ocorre como resultado de
todas as influências que operam sobre as nossas vidas. Cada um de nós, é criado
em um meio, sofre influências de todo o tipo e cria conceitos com base nas
próprias experiências. Isso explica a convicção que muitas pessoas têm diante
de tantas heresias criadas. Cada um de nós costuma ter certeza de que tudo o que
pensamos é o que Deus pensa.
Com o tempo, conforme amadurecemos, percebemos que muitos conceitos que
criamos, são fruto da nossa limitação e interpretação humana, diante daquilo
que o Espírito Santo está nos mostrando. E coisas que considerávamos
inegociáveis, deixam de ser tão relevantes. Hoje, ainda sou bastante jovem, e
tenho certeza de que daqui alguns anos, olharei para trás, e muitas das minhas
perspectivas terão sofrido alterações.
O que Deus deseja é o nosso coração completamente voltado para Ele, para
que o Espírito Santo tenha liberdade de avivar o nosso espírito, e assim, o
nosso caráter venha a ser transformado à imagem e semelhança do Pai. Pela nossa
força, não somos capazes de viver como Cristo, podemos até parecer por fora,
mas por dentro, Deus sabe o que nos motiva. A nossa natureza humana não tem
conserto, no entanto, através do Espírito, assumimos a natureza de Cristo e nos
tornamos seres espirituais que manifestam o amor de Deus.
Ser espiritual não se trata de termos dons, pois os dons pertencem ao
Espírito; servem para o Reino e não para o uso pessoal. Tampouco se trata de
ter sensações ou emoções que proporcionam paz e alegria passageiras. Ser
espiritual é colocar a carne e o ego no altar, deixar o fogo do Espírito queimá-los,
ao ponto de a nossa vida não ser mais conduzida pela nossa capacidade humana, e
sim pelo Espírito Santo, o único capaz de realizar a vontade do Pai.
Pela sua misericórdia, Deus trouxe entendimento daquilo que Ele espera
da minha parte, para poder me proporcionar a vida que Ele planejou desde o
princípio. Não bastava eu ter só caráter e dar um bom testemunho, não bastava
eu apenas entregar o meu coração, e não bastava o Espírito Santo se mover nos
dons, sem a minha submissão na vida pessoal; Ele queria e quer tudo.
Deus deseja nos proporcionar uma vida interior plena, para que ela seja
manifesta no exterior. Nossas ações precisam externar que Cristo vive em nós;
todavia, Ele precisa estar de verdade e ser suficiente. Não podemos ser como Cristo
agindo pela nossa própria força, independentes Dele, atuando como Cristo. Ele
deseja que sejamos dependentes e obedientes; e somente desta forma, a vontade
do Pai se cumpre ao invés da nossa própria vontade.
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